domingo, 9 de outubro de 2011

onde o horizonte

E achei que perdi o horizonte, ou, sei lá, não deu pra enxergar. O que vi foi uma novela de todos nós, de sangue ruim, precisando de paixão, que foi fodido, expropriado, que vive marginal à uma corredeira de valores que enlameiam a calçada. É o mundo. e ??
Pra falar em crimes, quem foi sangue ruim o bastante pra meter bala na múmia do shopping? Resolve? Quem é vítima? A burrice cruel da ostentação? Hum?
Quem viu a prostituta gorda fazer um boquete no banheiro da zona, só de camaradagem, porque você chegou chapado e sem rumo trocando as merdas da sua vida com as dela? E no dia seguinte tu tava no troninho médio da classe novamente, e ela, cuidando sozinha da criança, esperando a noite chegar pra levar mais uns tapas na bunda dum qualquer que se desespera em gozar todo esperma na sua boca.
Ou você e teus camaradas, fazendo a via-crucis dos bares, cheirando umas pra sumir pra lua, longe do olhar nojento de quem conserva bibelôs de ilusão, achando que tá menos fodido que vocês porque tem carro popular ou bebe brahma e você conti, que não vai ler teus poemas, que não vai ouvir Edvaldo Santana, nem saber quem é, não vai assistir à uma sessão de Barfly contando sobre quem foi expulso da sociedade do mesmo jeito que a classe média dá descarga no cocô e acha que não vai feder. De quem é isso mesmo? Quem falou?
E os aviões já vomitaram para-quedas, Zé, hoje vomitam cocaína. Por isso mesmo a viagem à lua. Ocupar um outro espaço, já que esse parece não ser nosso num é?!
E às vezes a gente se esquece, e acha que eh só literatura.
E esquecer é natural, não interessa mesmo lembrar, né?! Passado, quem tem? Qual terra expropriada de si, qual povo, hã? O Nosso? Qual povo engole coisas que alheias? Eu tô falando é da coisa de olhar no olhos, clarear as intenções, saber que não caga dorme e fode sozinho nessa vida, ou tá atulhado, todo mundo junto à toa porque quer? Quem sabe, mas tornar o convívio melhor, ou, sei lá, um senso de não pisar em cabeças, saber que cada privilégio é um direito roubado, né, umbigo do mundo?!
A esperança sempre foi uma das forças dominantes em todas em revoluções e insurreições, vi Sartre citado, num doc sobre Milton Santos. Mas taí, a esperança. Acima, algumas histórias.



Kaio.

3 comentários:

  1. Tanto querer enxergar o horizonte é achar que a linha próxima é ruim demais para ser vista. Ou, sei lá, não enxergar que há nela esperança nem vida. E aí, quando chegar no horizonte, perceber que aquilo que havia antes dele não era lá tão repugnante assim. Sofrer a saudade, derramar a nostalgia de uma garrafa pra um copo e ficar ali, só observando. Porque nada mais pode ser feito, o trem já passou. E eu... Eu estava cega demais para conseguir vê-lo.

    (Não tem muita relação com o post, não. É só um desabafo matinal sobre como não enxergamos o presente, às vezes).

    Gabriela

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  2. A quanto "ostentava" (rs)uma noite vadia, um pisão nesse bicho que corre o dia todo pra la e pra cá, que só serve de incomodo o tempo todo, querendo ganhar, querendo, querendo... querendo, ali... fora de mim.

    um abraço em nosso almanaquezinho frajuta!!! esse tratado nojento dos homens modernos. Parto dessa alma, alma que a parir me da os que, se possível for, irão entender junto a tudo, que a flor é mais que o que se pode observar!!!
    a flor é uma flor.

    abraço e satisfação germano!

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