quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Estrada



E o que passou esquece
Os trilhos são tua prece
Que o rock and roll te encontre
Em paz onde estiver

Sinta a nuvem de poeira deixada na estrada quando partir (sinta)
Beba um trago vendo o horizonte surgir  (beba)

Caminhos são gerais
Se a mente está em paz
O vento ajuda em qualquer direção

Outra cidade
Outra cama
Outros olhos pedindo paixão

Não ligue se até agora não deu
Teus pais já sabem que o menino cresceu
E aquela garota já nem importa mais
Muito bem vindo: é a estrada que te chama além mais

Descendo a serra vi o mar
Jurei a Deus, qualquer deus,
Não tiro meu pé da estrada

  Música: Kaio   Foto: Vinicius

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Top e o Coletivo


Entre o olhar da moça do outdoor e o coletivo, onde será que o próximo passo vai dar?
A esmo pela cidade, o tesão é flanar, quer dizer, vadiar com inteligência, como ideiou o poeta francês Charles Baudelaire. O flanador, ou flaneur, é aquele que capta efêmeros instantes do cotidiano. E o tesão a que me refiro não é pretexto para andar, é ele próprio parte do ato de flaneur, é gozar com o crepúsculo eterno que vem pra aureolar a vida como mistério, com sabor.
Pretexto tem essa mina do outdoor, que desvia seu olhar do meu, e lança o destino na direção que pretende: vá, meninão, corra até a próxima loja e compre uma dessas – como eu.
Ah, quais mulheres estão à venda?
Desculpe-me, miss-out, mas hoje me nego a isso. Hoje não tenho desejo nem sexo, sou andrógino e alheio aso efeitos dessa publicidade. Mas não alheio aos efeitos dessa cidade: o coletivo.
O ônibus ou as ruas? Tudo.
O primeiro passo, talvez, é saber que o transporte coletivo aqui nessa Guarapuava é lento, tremendamente lento, o que não deixa de ser ruim num mundo que “deve andar rápido”. Mas quem quer mesmo que tudo passe ligeiro? Quem disse que deve ser rápido? Quem quer a vida num piscar de olhos? As pessoas? Hum, essas se movem, se fixam, se chocam pela cidade, entre beleza e funcionalidade...
E é da cidade esse recorte rápido – e profundo, se você tiver mais tempo que eu pra ir além – que a fotografia “A Top Model e o Coletivo” faz; cai aos olhos como cenas cotidianas, mas nada desprovidas de significação ou significados. O que teus olhos vêem?
- espaço em branco para sua visão:







Kaio Miotti.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Frio


O frio chega sem bater palmas, invadindo o espaço sem contenção, e nesse momento o sem nada se perde em um devaneio de apenas um insólito destino: a morte. O valente coração aos poucos vai perdendo sua pulsão, um banho de água fria no destemido calor humano marcado por angústia e solidão.  

A rajada de vento estreita e comprime o corpo, jogando para a alma alguma esperança pela força. Mas o inimigo é forte, vai passando as horas e sua exuberância torna-se visível sob a forma de gelo. Alternativas não chegam e a coberta vira um simples pano, a chegada da noite pontua mais uma batalha.    

Os carros passam, deixando para trás expressões tristes, ás vezes até reprimidas, comovidas por presenciarem a degradação de um animal sem recurso, sem saída, que julgado pelo destino sofre a amargura de uma vida desleixada. Escolhas e caminhos passam pela cabeça, porém a condição exige mais esforço físico do que reflexivo.

A bebida passa de amiga para protetora fazendo de cada bicada um refresco divino. O fígado absorve e logo a quentura se diluiu em fome e sede. A batalha noturna crava embates que no passar do tempo vai deixando as sua vitimas no meio do caminho, deitados na rua a mercê de uma sociedade pálida e preguiçosa.

Na derradeira madrugada o sono perde seu equilíbrio, a dor se espalha e anestesia o sistema nervoso, que aos poucos vai perdendo a sua direção, o sentido em estado de corrosão. A vastidão da rua desperta ainda mais o desejo de suplicio, que na oratória á Deus configura mais uma esperança. 

Visto a manhã próxima, a consciência já não responde mais por si, bloqueada pelo álcool. O corpo escancarado em meio ao terreno baldio, destrinchado pela natureza, delimita uma ausência. A respiração estagnada marca o fim do compasso, o pesadelo chega a seu fim e num processo de hipotermia, uma alma a menos no mundo.


Vinícius

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dança de Roda


A poesia
repetida
repetida
poesia
parece
brincadeira
de rima
vadia
Mas a poesia
repetida
repetida
poesia
poesia
é batucada
ecos dos tempos
ventos
da madrugada



K.C

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Tarde



Momento sínico sem nenhum sinal de compreensão. Desafio à física invadindo o seu corpo, vagando entre peitos e busto a procura de alguma solução. Enquanto isso, a luz se ajusta no tom dramático, algo nada estranho para mais um por do sol. Interpelando sua face frente a mim, a refração é responsável por queridos segundos de mistério. Atmosfera mística, aos poucos, ilustra o nascimento da noite e a possibilidade da despedida. A língua seca ovaciona ainda mais o ambiente.  Estancado num pequeno e humilde abraço a celebração se concretiza em adeus, as portas se abrem e o sonho acaba. Recordações são formuladas em poucos minutos. Edênica no jeito de ser, plausível no modo de amar.
Vinicius 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Oxalá, capoeira!

Capoeira

Capoeira atitude histórica escrita pelo corpo;
Manifestação contra a intolerância racial;
Luta, dança, ritmo, e vigor físico, dramatização;
Corpo, capoeira carne, prazer, combate.
Catados de trechos do discurso “Brasil, Paz no Mundo” proferido em Genebra, na ONU, em 19 de Agosto de 2004 pelo então Ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil.

Capoeira embuchada na Angola, capoeira rebento em Brasil, desde agora pouco capoeira em estatística: praticada em 5 continentes á pernadas e corações de mestres brasileiros.
            Capoeira Oi sim sim sim, Oi não não não. Ou de Parafuso pra acertar soldado montado; de banda o capoeira bate no kara pálida; dança, raça, resistência:   
Quilombola mandingueiro
Jogador de capoeira
Mestre Bimba era o rei
Da Pituba à Ribeira

Quilombola mandingueiro
Jogador de capoeira
Chegava duro e manhoso
Nossa arte verdadeira

Capoeira tem hora
Joga com garra e mandinga
Esse jogo é tinhoso, não é Angola
É capoeira de Bimba
Oi sim sim sim
Oi não não não

Capoeira de pais Africanos, nascida em Brasil. Legados africanos transformados, afro-. Sincretismo. Séc. XIX capoeira jargão social pra marginal que ameaçava a ordem. Que ordem? Criminalizada. Derrubando, de certa e boa forma, o europeu no grosso da idéia. Bimba: estivador: pão com faca.
Eee faca de pão
Eee faca de pão, camará
Eee sabe furar
Eee sabe furar, camará
Eee quer me matar
Eee quer me matar, camará
Eee viva meu mestre
Eee viva meu mestre, camará
Eee a malandragem
Eee a malandragem, camará
Eee faca de pão
Eee faca de pão, camará

foto: Letícia Futata

O crepúsculo anunciado no floreio de pernas e palmas: capoeira na praça, criando bambas; a galera entrando no aço, não, não tão apanhando, é só o fio do berimbau conduzindo a roda na mandingueira.


Kaio Miotti

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Uma Transa Animal


Era uma quinta feira, quando o sol já estava espantando os resquícios de uma manha fria, típica de Guarapuava, despertando os mais diversos sentimentos. Foi no canto de um quintal que esses sentimentos, especificamente o amor e o tesão, explodiram em momentos íntimos, registrados sob o olhar escondido de um estraga prazer. A cada fleche o casal se irritava, interrompendo o ato e logo lançando olhares nada amistosos para esse curioso fotografo. A cada escondida, o casal reconstituía as posições e logo retornava ao movimento singular e frenético, fazendo de seus corpos uma arquitetura da paixão. O semblante de normalidade às vezes escapava de alguma expressão, remetendo alguma idéia de rotina ou simplesmente de uma atividade prazerosa, mas nada de compromisso ou algo com um tom mais sério. Ela estava presa á uma corrente enquanto ele era mais um desses ciganos que vivem perambulando pelas ruas atrás de uma boa aventura, inclusive foi seu caráter marginal que o levou a perceber que seu ato estava sendo fotografado e admirado. Seu olhar masculino não escondia seu pensamento, Ei porque você não vai atrás de uma cadela ao invés de ficar tirando fotos sem permissão, e acho bom parar, para evitar alguma mordida.  Já ela era mais acuada, pela corrente é possível notar que tem um dono e é tratada, é mais uma dessas princesas que não resiste á um vagabundo, sente que mesmo tendo tudo na mão o essencial da vida está nas ruas. Percebi que não poderia causar mais transtornos ao me deparar com outra expressão mesclando agonia e tristeza, porém agora vinha numa vibração tão concreta que decidir pegar o meu rumo. Enquanto me afastava, via o casal se retirando para um lugar mais seguro, para que nenhum outro curioso pense em repetir essa ação e que entre o calor de suas patas possam terminar a manha numa gostosa metida.


Vinícius Comoti

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Abertura

O Café Minutazz é uma transa fotográfica e textual, é fluir cultural no corpo da net, é... poxa vida, é o próximo passo sempre a dar do qual não sabemos muito.
Num café normalmente tomamos do grão negro, da cachaça, do velho milho destilado; hora comemos, hora vomitamos, hora cantamos a dondoca, a meiga e a vagabunda, se permitirem essas imagens juntas no quadro. Ora vira-latas, ora malandros de pá virada.
Hora um som.
Um prato de comida feito na hora leva o nome de Minuta, e o ZZ é uma sugestão sonora de jazz: o jazz, em síntese, instrumentos sinfônicos europeus utilizados por uma outra cultura, a do povo africano, expropriado, escravo, cheio de BLUES. E, pra deixar claro logo de uma vez a idéia desse sentimento azul, saiba que é o que se sente quando se tem comida na mesa, trabalho, mulher e algo não está certo, e então levanta a cabeça aos céus pedindo por sua alma. É aquilo que se ouve com a testa grudada nos trilhos enquanto a mente é pacificada'. É o protesto. É o canto da raça que resiste.

Quem resiste? Como resiste?

É um toque súbito, uma transa mesmo, um flash, é por aí...

Campo Mourão - PR, meados de outono


 
O horizonte é que se pretende - a abetura. Alguma coisa explode lá no fundo, e torcemos para que seja o caos porque o gosto é mesmo forte demais.

Abençoado!


Kaio Miotti e Vinicius Comoti