quarta-feira, 23 de novembro de 2011

o muro

foto: Kaio. Curitiba, Sítio Cercado,meados de 2011.



Eduardo Galeano, o uruguaio, diz em seu livro O teatro do Bem e do Mal que os muros da cidade não são de ninguém. que os muros da cidade dividem algo imaginário, ilusório: a propriedade pública da privada. 
Claro, Galeano! Quem disse que esse pedaço de chão é meu, e esse é teu?
mas Galeano, além, diz que "pobre das cidades que têm seus muros quietos". 
Os muros são como painéis, devem expressar sim o que a cidade é, o que pensa a cidade, o que ela quer. 
já bastam os jornais que não dizem nada, já bastam os veículos de comunicação em sua viagem débil mental, poluindo a existencia, caricaturizando tudo.
o que tens a dizer? diga no muro!
e o stencil? otimo.
faça o que Leminski disse: use a publicidade pra coisas mais interessantes, por exemplo, compartilhar questionamentos e não aderir produtos.
quero que a minha cidade se olhe, e veja, o quanto está despida de si mesma - agora, é ao contrário: deveria tu cidade se vestir de tintas, de pessoas, e deixar  A GEOGRAFIA CRUEL da economia, da posse de terras ir pra puta que o pariu.
quero ouvir os muros gritando! 
amém!




Kaio Miotti

terça-feira, 22 de novembro de 2011

"pra mim tanto faz, se é noite ou se é dia"- Aldir Blanc

foto: Curitiba, agosto 2011. Kaio.



Talvez já não saia da noite porque fica o dia inteiro esperando por ela. E não dorme. Tempos antes dormiria cedo, sei lá, umas dez, dez e pouco. E acordaria lá pelas cinco, curtindo a janela escura, o final da madrugada, sentado no parapeito pra ver a neblina apagando a cintura dos prédios. Agora é diferente. Chega a noite e o frio passa. Fica na penumbra até o esquecimento. Então viaja fundo pelos becos da noite passada.
 os dias também andam noite. É a geografia dessa cidade, ou a topografia do seu coração? Mas perguntar a quem? Pra que?
 Talvez seja apenas solidão. A dinâmica dos corações... Vai saber?! Acho que é mesmo o coração lhe f.


Kaio Ribeiro.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

partirás perdido

foto:Vinícius.



O final foi triste. nos despedimos as três da tarde. Tava calor pra caralho, o suor salgado com lágrimas, o copo cheio, bêbados sem conversar  direito, sem se olhar direito, casaco de poeira, não dava pra respirar, areia na cerveja, nos olhos.
Antes era mais uma de meter o pé, gás, tesão. O crepúsculo era um chão gelado sob corpos quentes, ali, e nos desejávamos algo mais, é... éramos uma revolução; saqueávamos paraísos herméticos da selva urbana, intervíamos, quer dizer, havia um existência, uma banda tocando, blues, baião, cortando o aço, deus!

Agora resta cold feeling, é Albert Collins numa vitrola pra ser mais fácil de apertar o botão stop – e parar a dor? Hum?
Não, benzinho, a casa era tua; sem ter nada o lar do cara é a estrada.



Kaio Ribeiro.