sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Frio


O frio chega sem bater palmas, invadindo o espaço sem contenção, e nesse momento o sem nada se perde em um devaneio de apenas um insólito destino: a morte. O valente coração aos poucos vai perdendo sua pulsão, um banho de água fria no destemido calor humano marcado por angústia e solidão.  

A rajada de vento estreita e comprime o corpo, jogando para a alma alguma esperança pela força. Mas o inimigo é forte, vai passando as horas e sua exuberância torna-se visível sob a forma de gelo. Alternativas não chegam e a coberta vira um simples pano, a chegada da noite pontua mais uma batalha.    

Os carros passam, deixando para trás expressões tristes, ás vezes até reprimidas, comovidas por presenciarem a degradação de um animal sem recurso, sem saída, que julgado pelo destino sofre a amargura de uma vida desleixada. Escolhas e caminhos passam pela cabeça, porém a condição exige mais esforço físico do que reflexivo.

A bebida passa de amiga para protetora fazendo de cada bicada um refresco divino. O fígado absorve e logo a quentura se diluiu em fome e sede. A batalha noturna crava embates que no passar do tempo vai deixando as sua vitimas no meio do caminho, deitados na rua a mercê de uma sociedade pálida e preguiçosa.

Na derradeira madrugada o sono perde seu equilíbrio, a dor se espalha e anestesia o sistema nervoso, que aos poucos vai perdendo a sua direção, o sentido em estado de corrosão. A vastidão da rua desperta ainda mais o desejo de suplicio, que na oratória á Deus configura mais uma esperança. 

Visto a manhã próxima, a consciência já não responde mais por si, bloqueada pelo álcool. O corpo escancarado em meio ao terreno baldio, destrinchado pela natureza, delimita uma ausência. A respiração estagnada marca o fim do compasso, o pesadelo chega a seu fim e num processo de hipotermia, uma alma a menos no mundo.


Vinícius

2 comentários:

  1. essa é a rua... goles densos e secos de solidão.

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  2. Bom trabalho Vinicius. Seu lado poético é bem criativo. Espero te ver em breve.

    Abraço,

    Erasmo.

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